História

A história da Escola Técnica de Saúde da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Etsal/Uncisal) nos remonta a década de 1940 junto com o surgimento da enfermagem profissional no Estado de Alagoas, que desponta como “objeto de disputa política, no contexto do populismo”. Esta é a síntese do excelente estudo que Regina Maria dos Santos e Joséte Luzia Leite fizeram sobre o surgimento da enfermagem moderna em nossa terra.

O livro publicado pela Edufal em 2004 traz uma análise detalhado dos fatores que determinaram a criação da Escola de Auxiliares de Enfermagem de Alagoas em 1952, durante o governo de Arnon de Mello.

Para as autoras, a Escola surgiu por iniciativa da primeira dama do Estado, Leda Collor, que presidia a Legião Brasileira de Assistência e tinha a motivação política para realizar obras sociais que ajudassem a elevar o prestígio do governador Arnon de Mello.

 

D.Ranulfo, arcebispo de Maceió, e o governador Arnon de Melo, na solenidade de inauguração da Escola de Auxiliares de Enfermagem

A foto acima registra D.Ranulfo, arcebispo de Maceió, e o governador Arnon de Melo na solenidade de inauguração da Escola de Auxiliares de Enfermagem

Outros fatores também influenciaram o surgimento do curso:

a) havia a necessidade de profissionais para atuarem nos serviços de saúde, públicos e privados, hospitalares ou não. Essa demanda era nacional;

b) o Serviço Especial de Saúde Pública – SESP estava investindo na ampliação e descentralização das escolas de enfermagem, propiciando a oportunidade de instalar uma em Alagoas, e;

c) existia uma clientela em potencial para a Escola. Muitas alagoanas já tinham sido contempladas com bolsas do SESP para fazerem o curso fora do estado.

“Tantas circunstâncias favoráveis não podiam ser ignoradas e, de fato, possibilitaram os movimentos dos agentes que vislumbraram a oportunidade de multiplicar seu capital social numa instituição altamente rentável simbolicamente porquanto necessária”, concluíram Regina Maria dos Santos e Joséte Luzia Leite.

 

Predominava a ideia que a enfermagem era um simples corpo de funcionários que servia para apoiar o trabalho do médico. Movido por essa visão é que o dr. Ib Gatto cria obstáculos para a criação de uma escola para enfermeiras e convence Leda Collor a criar uma instituição para auxiliares de enfermagem.Uma das circunstâncias favoráveis só se veio a se concretizar a partir de 1950, quando um grupo de médicos liderados pelo então Diretor Estadual de Educação, dr. Ib Gatto Falcão, resolveu constituir a Faculdade de Medicina de Alagoas. Até então, Ib Gatto não achava necessária a formação profissional da enfermagem por avaliar que não existia mercado para absorver esta mão de obra. A Faculdade de Medicina de Alagoas foi fundada em 3 de maio de 1950.

 

Aula inaugural da primeira turma

Aula inaugural da primeira turma

O primeiro investimento na profissionalização da enfermagem em Alagoas se deu em 1952, antes da criação da Escola. Leda Collor promoveu em Maceió um curso para parteiras leigas. Foi uma ação do Departamento Estadual da Criança com o apoio da Fundação Internacional de Socorro à Infância (FISI) e aconteceu na Maternidade Sampaio Marques, da Santa Casa de Misericórdia de Maceió.

Cerimônia da Touca em 1955

Cerimônia da Touca em 1955

O curso possibilitou que Leda conhecesse Elita Silveira, enfermeira do Ministério da Saúde que tinha vindo de Natal, RN, para ministrar as aulas. No ano seguinte, foi convidada para dirigir a Escola que estava sendo criada em Maceió.

Após um “acordo” entre Leda Collor e Ib Gatto, foi registrada, no dia 16 de maio de 1952, a Sociedade Civil Escola de Enfermagem de Alagoas. As instituições mantenedoras da Sociedade eram as seguintes: Governo do Estado, Cruz Vermelha Brasileira (filial Alagoas), Hospital da Agroindústria do Açúcar, Santa Casa de Misericórdia de Maceió, Liga Alagoana contra a Tuberculose e a Faculdade de Medicina de Alagoas.

Na eleição da primeira diretoria da Escola, Leda Collor demonstrou o seu empenho e conseguiu colocar à frente da instituição personagens expressivas da vida política, econômica e cultural de Alagoas.


Formatura da segunda turma em 1956
Formatura da segunda turma em 1956

Na reunião que aconteceu no anfiteatro do Instituto de Educação, no dia 15 de abril de 1952, estavam presentes os seguintes sócios fundadores: Leda Collor, da Cruz Vermelha; Ib Gatto e Armando Lages, do Governo do Estado; Antônio Cansanção, do Hospital do Açúcar; Osório Gatto, da Santa Casa; Carlos Nogueira e Lessa de Azevedo, da Liga Alagoana contra a Tuberculose; Théo Brandão e Aristóteles Simões, da Faculdade de Medicina de Alagoas; e Domingos Lima, do Instituto de Proteção à Infância. A sessão foi presidida pelo dr. Ib Gatto e elegeu os seguintes diretores: Presidente, Leda Collor; Secretário, dr. Aldo Cardoso; e Tesoureiro, dr. Carlos Nogueira.

Como Leda Collor era uma assistente social, procurou orientação para materializar a Escola. Há registros de ela tenha discutido as primeiras ações com uma enfermeira americana. Regina Maria dos Santos e Joséte Luzia Leite acham plausível essa possibilidade. “A presença desta enfermeira americana é perfeitamente compreensível se nos reportarmos ao fato que ainda estavam no Brasil algumas enfermeiras da missão americana que implantou o SESP”.

Segundo Ib Gatto, foi o SESP quem deu o maior suporte para a Escola, fornecendo pessoal e dinheiro. Há registros ainda de que Leda Collor manteve contato com o Serviço Nacional Contra a Tuberculose do Rio de Janeiro e a Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo em busca de apoio e orientação.

A presença em Alagoas de enfermeiras de outros estados cedidas para a Escola era tão aguardada que a Gazeta de Alagoas chegou a publicar uma nota informando da chegada das enfermeiras Diva Falcão Padilha e Perolina Barbosa, dos quadros do SESP e que vieram para ensinar em Alagoas.

Depois da autorização do Ministério da Educação para o funcionamento, a Escola de Auxiliares de Enfermagem de Alagoas se instalou em um prédio alugado ao dr. Lourival de Mello Motta, na Rua Ângelo Neto, onde hoje funciona a sede dos Cursilhos. Mello Mota morava na casa vizinha, que depois foi cedida para a Escola de Serviço Social Padre Anchieta.

O primeiro corpo docente da Escola foi formado pela diretora, Elita Silveira (chegou em julho de 1952), Rosa Rocha da Silva, Perolina Ferreira Barbosa (chegou em abril de 1952) e Lenira Pacheco Moreira. Foi ainda admitida a enfermeira Syther. Diva Falcão Padilha não se adaptou e voltou para o Rio de Janeiro. Abihael Maria de Souza também se afastou da Escola após ser contratada para chefiar o serviço de Enfermagem do Centro de Saúde de Maceió, mas logo também deixou Alagoas.

Da mesma forma que foi difícil conseguir as professoras, foi difícil mantê-las. Nos quatro primeiros anos de funcionamento, passaram pela Escola dez enfermeiras, num rodízio forçado principalmente pelo SESP, que ameaçava afastar os servidores que ficassem por mais de dois anos a serviço de outra instituição.

Como resultado dessa movimentação de servidores, Perolina foi transferida para a Escola de Enfermagem de Sergipe e Lenira e Syther pediram demissão do SESP e foram para o Rio de Janeiro e depois para Campina Grande. A última contratada desse período inicial foi Maria de Jesus Cordeiro, que chegou em agosto de 1955. Além do ensino técnico, existiam os professores de outras cadeiras. Professor Sebastião ensinava Português; Padre Lima lecionava Etiqueta Social; Padre Brandão Lima ensinava Religião e Consuelo era quem promovia a recreação.

A primeira secretária da Escola foi Yah Moreira Gomes. Até 1955, mais duas pessoas cuidaram da secretaria: Carmesita e Washington, que também era o contador.

A próxima conquista da Escola foi a sede própria. Segundo Ib Gatto, foi ele quem conseguiu o terreno numa permuta com a Polícia Militar. Ele queria que a Escola funcionasse nas proximidades de um grande hospital. Como esse terreno ficava próximo à Santa Casa de Misericórdia de Maceió, na Rua Pedro Monteiro, foi escolhido e imediatamente iniciada a construção. A nova sede da Escola só foi utilizada a partir de 1963.

 

A PRIMEIRA TURMA – O curso de auxiliar de enfermagem foi programado para durar um ano e oito meses, mas sempre demorava mais por causa dos estágios. Para formar a primeira turma, houve uma divulgação dirigida aos colégios, educandários para órfãos, prefeitos, além dos jornais e rádios.

As pretendentes tiveram que se submeter a uma seleção, com prova escrita de português, aritmética, história e geografia, além de apresentarem os seguintes documentos: atestado de vacina; de sanidade mental; de idoneidade moral; dois retratos 3×4 com data; carteira de identidade (opcional); certificado de conclusão do curso primário oficial ou reconhecido; ou certificado de exame de admissão ao ginásio; ou ainda certificado do exame de admissão realizado na própria escola.

O regimento da Escola também recomendava que houvesse uma investigação social e uma inspeção de saúde das alunas. Era a busca de profissionais que “tivessem conduta moral irrepreensível, porque se aproximavam de pessoas com postura que se adequassem ao padrão moral da enfermeira e do auxiliar de enfermagem”, destacam Regina Maria dos Santos e Joséte Luzia Leite.

O primeiro processo seletivo aconteceu no dia 15 de julho de 1953 e dele participaram 49 das 56 inscritas, sendo aprovadas e classificadas somente 29 alunas, a maioria delas do interior, com origem na classe média.

A aula inaugural, que ocorreu no dia 2 de agosto de 1953 às 20 horas, foi precedida da benção de um crucifixo realizada pelo arcebispo metropolitano D. Ranulfo da Silva Farias. No auditório, o governador Arnon de Mello, secretários de governo e outras autoridades saudaram as alunas e ressaltaram a importância do curso. Na chamada da aula inaugural, já constava a desistência de uma aluna.

A primeira aula do curso foi ministrada no dia 10 de agosto e a primeira turma se formou em junho de 1955, mas os certificados só foram emitidos após o reconhecimento pelo Ministério da Educação, que aconteceu pelo Decreto nº 39.084 de 30 de abril de 1956.

As condições de funcionamento da Escola eram boas, mas com o passar do tempo foram surgindo problemas, principalmente nas relações interpessoais. Progressivamente foi se estabelecendo um distanciamento entre as professoras e as alunas. A disciplina rigorosa tornava cada vez mais difícil a vida das estudantes, a ponto da sexta, sétima e oitava turmas não concluírem porque todas as alunas desistiram. As turmas começavam com 20 ou 30 alunas, mas terminavam muito pequenas.

A partir de 1956, com a mudança de governo — Muniz Falcão assume no dia 31 de janeiro de 1956 —, a Escola perde a contribuição de Leda Collor e vive um período de muitas dificuldades, mas continua a cumprir o seu papel, transformando-se num marco divisor entre a enfermagem rudimentar e a enfermagem praticada pelas novas profissionais. A importância da Escola era comprovada com a contratação imediata de todas as alunas recém-formadas.

O objetivo da Escola de Auxiliares de Enfermagem de Alagoas também era o de abrigar o curso de Enfermagem, mas isso não se concretizou. Somente em 1974, com a reforma do ensino universitário é que a Universidade Federal de Alagoas organizou o curso de Enfermagem.

 

Fontes:

A inserção da Enfermagem Moderna em Alagoas: bastidores de uma conquista, de Regina Maria dos Santos e Joséte Luzia Leite.
Fotos do arquivo da Escola de Auxiliares de Enfermagem de Alagoas.